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Bonjardim, uma Rua “gourmet”?

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Há tanta gente que passa, passeia, compra e come na rua do Bonjardim que nem se apercebe que, por si só, esta rua do Porto é um grande e variado destino para um apreciador de boa comida, bebida e dos prazeres da mesa.

É uma rua de sentimentos contraditórios, que se transforma do dia para a noite, frenética com a claridade e desconfiada com a escuridão. O seu património edificado também é contrastante de casa para casa, onde umas estão recuperadas e alegres e as vizinhas abandonadas e mais tristes. Às vezes, parece haver um fascínio arqueológico com edifícios e lojas vazias que contam histórias no Bonjardim entre quem observa, conversa e os turistas que tiram fotografias.

A antiga “estrada de Guimarães”, que hoje liga o início de Sá da Bandeira nos congregados à Praça do Marquês é uma rua histórica do Porto que, como outras suas irmãs, teve um período glorioso quando a burguesia do Porto fazia os seus negócios nesta zona da cidade. Agora, com os seus contrastes, luta por um lugar ao sol.

E é nessa luta que surge a minha questão: Não será esta “esquecida” rua do Bonjardim um verdadeiro destino gourmet?

A verdade é que, indelevelmente, como queremos na comida e no prazer que retiramos dela, a rua do Bonjardim tem uma variedade de destinos absolutamente imperdíveis para todos os que gostam de beber, comer, cozinhar e apreciar, cores, sabores, aromas e histórias.

Se pensarmos em nomes como Regaleira, Solar da Conga, Cafés Sanzala, Casa Januário, César Castro, Taberna do Bonjardim e King Long, temos mais do que motivos para olhar para a rua do Bonjardim com outros olhos!

Senão vejamos: Só nesta rua nasce a francesinha há mais de 60 anos, há um solar com bifanas de estalo, uma casa moderna que vende café à moda antiga, o paraíso de quem faz bolos em casa, sobremesas e aprecia artes culinárias, uma loja de utilidades especializada na cozinha e na mesa onde se pode encontrar literalmente tudo, um espaço que foi percussor da recuperação dos petiscos e da baixa como destino de lazer e, finalmente, o “irmão” gémeo do restaurante chinês da ponte (Luiz I) que fez as delícias durante décadas de quem arriscava comer comida chinesa nos anos 80, quando esta ainda não estava democratizada.

A Rua do Bonjardim, que na sua extensão inicial é mais movimentada e comercial, merece longos passeios, ócio e apetite para a enfrentar.

Seguem-se alguns destinos, entrando pela Rua do Bonjardim a partir de Sá da Bandeira:

A Regaleira

Passar as portas deste restaurante é viajar no tempo, recuando umas décadas. Se o dia estiver solarengo, aquele efeito de contraste de luz que torna os espaços fechados mais escuros ajuda a produzir este efeito temporal. Lá dentro encontramos uma decoração parada nos anos 50, recuperada e em que nada é deixado ao acaso: o balcão que suporta a sala e onde se pode sentar, o pé direito, os candeeiros, a decoração das paredes, a apresentação, as fardas dos empregados e a sua atenção.

A francesinha é o ex-libris deste espaço. Foi aqui que foi criada e tem a particularidade de ser com carne assada em vez de bife, como se apresentam a maior parte das francesinhas hoje em dia. À primeira vista, a carne assada pode tornar o prato mais seco, mas a verdade é que se a peça for bem escolhida e não estiver demasiadamente assada, é um elemento que equilibra o prato, dando-lhe consistência, o que por vezes não acontece com o bife. Mas é o que acontece com a versão original do snack, na Regaleira

Solar da Conga

Este espaço, chegando à hora errada, é daqueles onde é preciso estar à espera na porta, em fila, para arranjar mesa ou lugar ao balcão. Frenético, acelerado e ruidoso, só a presença no espaço é suficiente para ganhar a energia que se pretende com a refeição. Definitivamente, não é a decoração o que conta para o prestígio deste solar. É o serviço rápido, pronto e eficiente que se destaca.

O Solar da Conga é conhecido pela bifana. Laminada, tenra, picante, sempre a cozer até ir para o pão e este fresco para absorver o molho que a acompanha. A velocidade com que saem bifanas nesta casa permite o tempo suficiente para a carne para cozer. A finura do seu corte também ajuda. Duas é a dose certa.

Complementar com papas de sarrabulho ou caldo verde é o ideal, mas estes devem ter tomados antes, pois os sabores da bifana devem ser privilegiados, assim como considerado o especiado do molho na influência da percepção dos sabores dos alimentos que se seguem.

Sanzala

Qualquer loja de café aprisiona-nos pelo nariz. Quando entramos apetece logo inspirar fundo e ficar demoradamente a absorver aqueles aromas que saem das caixas onde estão guardados os cafés, ou dos pacotes que são pesados na hora. Esta loja tem essa atração. Um magnífico cheiro a café e um atendimento muito simpático.

(Quantas vezes fico triste pelo facto de na Sanzala não se poder tomar o café que vende).

Aqui é possível escolher entre os vários lotes da marca, assim como os tipos de moagem que mais se adequam às máquinas que temos em casa. Podemos ainda provar várias origens do grão e a loja dispõe ainda de uma vasta gama de acessórios e máquinas de design que podemos comprar para que o café saiba ainda melhor!

Casa Januário

No lado oposto da esquina dos cafés Sanzala, a Casa Januário é um passeio por um armazém de componentes que vão dar lugar a magníficas obras culinárias, muitas delas comidas no anonimato das casas dos amantes de doces e dos seus amigos. A casa é um conjunto de formas, cores e reflexos do que é necessário para dar origem a tudo o relacionado com pastelaria.

Para além dos ingredientes específicos para bolos, doces e sobremesas, também oferece ao cliente vastas opções de moldes, instrumentos, coberturas, pastas, massas e ainda alguns salgados, como enchidos e queijos. Também não deve ser desprezada a garrafeira, ao fundo da sala, que passa despercebida mas que apresenta algumas raridades e uma óptima seleção de vinhos de todo o país.

César Castro

Esta casa comercial é aquilo que só julgamos existir no estrangeiro. Quando nos começamos a apaixonar pelas ferramentas e materiais que os chefs usam na televisão e achamos que só esses permitem que o que fazemos em casa fique fantástico, então a César Castro tem. Maçaricos para queimar o “créme brulée”, sondas para confirmar a temperatura da carne sem a cortar, serviços de pratos pouco convencionais para cozinha contemporânea e formas para macarons são alguns dos exemplos do que é possível encontrar. A vastíssima oferta desta loja (que tem dois espaços nesta rua) torna a vista demorada mas muito interessante.

Taberna do Bonjardim

Tem pratos do dia à semana, opção de brunch ao Sábado, uma carta de pratos contemporâneos, mas também uma série de petiscos tradicionais, servidos ao jantar de 3ª a 5ª feira que são uma delícia. Recomenda-se o pica-pau, numa interpretação diferente da que estamos habituados nas cervejarias, mas feito de carne tenra e molho intenso e complexo, cheio de sabor, as moelas bem cozidas com molho consistente e apurado no picante, e os ovos mexidos com espargos, sendo que estes estavam no ponto certo, ainda estaladiços e os ovos húmidos, sem estarem demasiado cozidos.

A Taberna tem uma decoração e ambiente “bistrô”, que nos transporta para os anos 20, muito cuidada e em que nada é deixado ao acaso. Está dividida em dois andares, sendo que a entrada é apenas para o cliente se ambientar e preparar para a refeição. A sala do repasto é no primeiro andar.

King Long

Também conhecido apenas como restaurante chinês, fica na praceta que antecede a Rua de Gonçalo Cristóvão. Está na origem da comida chinesa no Porto e durante muitos anos foi o seu templo. Com a abertura de novos espaços dedicados a esta cozinha perdeu influência, mas continua a apresentar muito boa qualidade na oferta e no serviço.

O King Long apresenta a tradicional lista chinesa que estamos habituados a comer com algumas opções originais e com a preocupação em integrar ingredientes menos comuns aos existentes na concorrência. A lista de sobremesas tradicionais é curta mas muito saborosa, sem esquecer os clássicos pratos de fruta fa si.

Texto e fotos de Paulo Russell-Pinto

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